quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

O blog não morreu - dois livros e uma sessão de autógrafos


 

Por muitos meses quis começar esse texto com o título "Porque o blog morreu". Mas não tinha certeza se ele estava de fato morto ou apenas num sabático. 

Todas as minhas mudanças de casa transformaram meu modo de cozinhar. Seja porque a cozinha muda minha movimentação, seja porque os mercados têm ingredientes diferentes. Há também as distâncias até os mercados, a configuração do bairro, andar versus dirigir, a rotina das crianças e o tanto de trabalho que me consome. 

Numa tarde dedicada a preparar bombas de chocolate, a bomba que me atingiu foi a constatação de que eu preferia estar escrevendo a cozinhar. Olhei para as quatro horas do meu dia usadas para produzir aquele doce, e entendi: a fase passou. A pessoa alucinada por cozinha que fui um dia, que ia dormir planejando novas receitas, não estava mais ali. Quem usava aquela cozinha era alguém tranquila em preparar jantares sem grandes alardes, e o mesmo bolo de fubá para o lanche. O fogo da exploração de novas técnicas e ingredientes finalmente havia virado uma brasinha confortável de quem só quer comer um bom spaghetti. 

O mundo culinário na internet também estava saturado. Não havia  nada a respeito de comida que eu pudesse escrever que já não tivesse sido publicado. E não apenas publicado, mas melhor fotografado, mais bem testado, e com todas as promessas cansativas de "o melhor", "o perfeito", "o definitivo". 

E eu cansei. E eu só queria comer meu jantar em paz e mandar na lancheira das crianças uma barrinha de cereal que eu comprei no Costco, porque eu não tenho mais energia para fazer tudo o tempo todo. 

Acontece que nessa mesma época, o Instagram, onde divulgo meu trabalho de ilustração, escrita e arte, começou a dar problemas. Dei-me conta de quão instável era a ferramenta, e o problema que seria caso o Zuquebérgue resolvesse desligar ou mudar o aplicativo, ou simplesmente bloquear minha conta. Eu perderia o acesso àquelas pessoas que acompanhavam meu trabalho. Cada vez mais hackeado, o Instagram me fazia sentir presa a uma rede social que a qualquer momento poderia sumir, como o finado Orkut.

Mantinha o blog como meu principal canal de escrita, mas achava estranho escrever aqui sem falar de comida. O meio influencia o modo como nos comunicamos, e os textos que escrevo no Instagram não têm a mesma forma e conteúdo que os que escrevia aqui. Mas aquilo que eu gostaria de escrever aqui por alguma razão não fluía. O formato de longas entradas de diário que me acostumei a produzir no blog não funcionava mais para mim.

O blog foi ficando mais vazio depois que o Google desativou o Feed. Sem receber mais atualizações, quem quisesse me ler teria de lembrar que o blog existe, e acessar o endereço por livre e expontânea vontade. Ao mesmo tempo, eu me irritava com os cinquenta cometários por dia que eu precisava moderar: todos spam em outras língua, no meio de um ou outro leitor novo, que caiu de gaiato no blog, me perguntando de forma seca e grosseira sobre susbstituição de ingredientes numa receita que fiz uma vez só há dezesseis anos.

Em nome da minha paz de espírito, fechei os comentários do blog. No entanto, isso também fechou o canal de comunicação com meus leitores, que eu gostava tanto.

A solução, na época, foi criar um Apoia-se, que depois virou uma comunidade no Hotmart, e hoje é uma newsletter no Substack. Tentei plataformas diferentes, pagas, gratuitas, o que fosse. Queria escrever em uma plataforma que permitisse um contato mais direto e mais com quem gosta de ler as bizarrices que meu cérebro produz. Mas que também fosse estável, que não estivesse à mercê das flutuações de humor de um milionário sociopata.

A newsletter do Substack hoje funciona como um blog, onde posso escrever sobre qualquer coisa (e até sobre comida, se eu quiser), mas cuja vantagem é ir direto ao leitor. É uma ferramenta que tem menos chances de simplesmente desaparecer (e se desaparecer, eu tenho como avisar todo mundo), e onde eu sinto que tenho mais possibilidades como escritora. 

Mas agora que a newsletter está bem estabalecida, ainda que sujeita ao meu tempo e cansaço (que isso de prometer texto toda semana durou pouco), chegou a hora de voltar a esse espaço para dar notícias. E eu estive tão atrapalhada com a vida em geral, que não me dei conta de quanto tempo se passou desde meu último post aqui e tudo o que deixei de informar. 

No mais, continue acompanhando meu trabalho no Instagram: https://www.instagram.com/anaelisagg/ 

E vá conhecer e assinar minha newsletter, Boletos & Borboletas: https://anaelisagranziera.substack.com/

LANCEI UM LIVRO NOVO


 

Em novembro de 2022 saiu meu segundo livro, Manual das Decepções de Uma Vida Comum - contos e outras coisas. Uma experimentação com o conceito da decepção, da desilusão: pequenas histórias, poemas e ilustrações a respeito do momento em que a ilusão é quebrada, e nos defrontamos com a realidade. Tudo permeado com o tipo de humor ao qual vocês se acostumaram por aqui.  

O livro foi publicado pela Mocho Edições. e está à venda no site da editora.

COMPRE MANUAL DAS DECEPÇOES AQUI

No momento do lançamento, eu estava atrapalhada com o processo da cidadania canadense, que deixa a gente seis meses sem passaporte. E por conta disso, não consegui ir ao Brasil para o lançamento presencial. 

Mas isso mudou: amanhã embarco para São Paulo. E no meio das minhas férias, realizo um sonhon de infância: minha tarde de autógrafos em uma livraria. 

LANÇAMENTO E SESSÃO DE AUTÓGRAFOS

DIA 9 DE MARÇO, DAS 15h ÀS 18h
Na Livraria Martins Fontes - Consolação
R. Dr. Vila Nova, 309, Vila Buarque - São Paulo - SP

ESPERO TODO MUNDO QUE PUDER IR! SE VOCÊ JÁ TEM MEUS LIVROS, VAI DAR UM OI E PEGAR O AUTOÖGRAFO! VOU ADORAR CONHECER VOCÊS!


 PERAÍ - LANCEI OUTRO LIVRO

Não satisfeita, em 2023 lancei meu terceiro livro, Pandora Não Dormia - poemas de noites insones. Um mergulho na mente neurótica de quem não dorme, nos fantasmas do luto e na redenção de um dia que nasce. Pandora Não Dormia é meu projeto mais precioso, pois teve escrita, edição, projeto gráfico, diagranação, ilustração e capa assinados por mim. Trabalho completo, realização de sonho em forma de objeto. Apesar de ter sido escolhida por duas editoras, quis publicar Pandora de forma completamente independente, para ter controle de todos os processos e tentar resolver algumas das dificuldades da autora expatriada.

Hoje chega à casa dos meus pais uma caixa inteira de Pandora Não Dormia, que vou autografar e enviar de São Paulo para o Brasil. Se você quiser o seu, me manda um email (anaelisagg(arroba)gmail.com). Vou autografar os livros na segunda semana de março e enviar.

Pandora não vai ter lançamento presencial, e nem acho que posso vendê-lo no evento do Manual das Decepções. Mas além de comprá-lo direto comigo, autografado, você também pode pedir na Amazon: 

COMPRE PANDORA NÃO DORMIA AQUI

 

E é isso, pessoal. 

O blog continua por aqui, ainda meio sem saber se é ou deixou de ser. Assine minha newsletter para receber crônicas, cartuns e novidades. Há muio mais coisas minhas publicadas por aí. Como o livro infantil que ilustrei, as crônicas e contos publicadas em portais e revistas literárias, e as coletâneas das quais agor faço parte. O Instragram continua mostrando o dia-a-dia dessa doida que vos escreve, e as pinturas e ilustrações que produzo. SE você tiver uma encomenda, manda uma mensagem. EStou aceitando encomendas de capas de livros e diagramação também!

Beijos a todos e espero ver vocês no meu lançamento na livraria! Quem não quer ver minha cara de pangaré cansado morrendo de emoção de realizar um sonho? 

Inté.


quarta-feira, 1 de junho de 2022

Uma salada basta

 

Era para ter refeições no jardim, mas hoje choveu. E calhou que hoje, essa semana, como é todo o período antes de se sair de férias, há muito trabalho. E come-se na frente do computador. 

E poderia comer na frente do computador como fazem os canadenses, deglutindo apressadamente um qualquer coisa comprado pronto. Mas há prazeres dos quais não abro mão para não adoecer de alma, e um deles é preparar meu almoço. 

Saladas. Que há com as saladas que me encantam há tantos anos? Que desde tempos imemoriais (ou bem memoráveis, bem marcados aqui no blog), me faço saladas para almoçar solitária, enquanto assisto a algum video besta de cozinha ou olho os passarinhos entre nuvens pela janela. Às vezes levo mais tempo para prepará-las do que para efetivamente comê-las, mas assim me sinto acarinhada, cuidada, abraçada por esses meus mesmos braços que apanham panelas para dourar croutons e tigelas para fazer um molho.

Mesmo com as crianças, as saladas insistiram em se fazerem presentes. Digo aos dois, tão crescidos, como sinto falta dos nossos almoços tranquilos depois da escola no Brasil. (A memória é essa coisa linda, que esquece as birras no estacionamento da escola, as lutas para convencer a criança a provar a rúcula, ou o dilema de tirar ou não tirar a criança dormindo da cadeirinha do carro pra vir almoçar, já que o almoço tá pronto e aquela soneca zoa a rotina, mas a criança acordada da soneca vai ficar fula e não vai comer nada de qualquer forma.) Mas sou sincera: sinto saudades. De quando eles primeiro aprenderam a comer salada, ainda petititicos, apanhando com as mãozinhas cunhas de alface americana, e mergulhando num molhinho de iogurte. De quando eles já tinham idade para comerem sozinhos, e os ensinei a espetar a dobrar a folha de alface no prato e usar a faca para espetar o pacotinho verde na ponta do garfo, coisa muito educada. De terminar o almoço salada+omelete de bistrô com umas fatias de queijo bom e uma fruta. Na época em que o Thomas ainda comia fruta. (Vitórias, no quesito criança, são sempre passageiras.)

A escola canadense, que os mantém fora de casa quase todo o dia, me lançou de volta às saladas solitárias da juventude. E continuo deliciada com essa refeição leve que não me arrebata de sono no meio do dia. Essa oportunidade de criar misturas e misturar cores e texturas. 

Alface americana rasgadinha, abacate, rabanete. Tem verdura mais bonita que rabanete? 

Um molhinho improvisado que vale ser guardado para repetição: iogurte, azeite, vinagre de maçã. Assim no olho e no paladar, que você decide quão líquido ou quão ácido quer seu molhinho. Cebolinha, salsinha, coentro e hortelã, partes iguais, e bastante, seja generoso, muito bem picadinhos. Sal, pimenta-do-reino. Um alho pequeno, bem amassado. Mistura bem. Fica mais forte e gostoso se feito com antecedência. Croutons fresquinhos, pãozinho rasgado dourado no azeite e alho. (Pode amassar esse alho dourado e meter no molho também.) E só.

Que assim já tá mais que bom. 

Agora me dá licença pra catar um cafezinho, que o almoço acabou e eu tenho trabalho a fazer.

Cozinhe isso também!

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